Em homenagem ao meu amigo Herr Professor Von Grilen
Bábá para os íntimos , os anões, está bom de ver , dirá o leitor. Mas
engana-se , engana-se mesmo muito ,porque no dizer da pequena , até nem os conhecia muito bem.
-Aqui há marosca ! Pensarão os que têm a paciência de me aturar .E pensam muito muito bem porque havia marosca e era das grandes.
Resumindo a Branca de Neve como nos impingiram, já lá vão setenta anos, chamava-se na realidade Clara Albina Branca das Neves e era balanta por parte do pai e kikuyo por parte da mãe, e como já todos perceberam, era preta tição. Dizia o orgulhoso papá, que preta mais preta não há. Ponto final.
Ora, in illo tempore , não havia pretos nas estórias , era tudo branquinho da silva ( hoje estória que não meta tonelada de preto não é estória e geralmente é estória da grossa ) , mas como ia dizendo , para fazer estória branqueram-na, assim como o Michael Jackson que já nem preto é, ficou-se pelo cinzento claro além de outras coisas peculiares , que dessas não sofre a nossa Bábá, os anões sim.
Precocemente, já que estamos a falar do pós-guerra, aderiu ao Women’s Lib e abandonou o belo palácio acubatado em que vivia para ir viver só, numa confortável cabaninha da floresta que arrendara ao J.Pepper.
Era virgem, pelo menos assim o apregoava mas com grandes reticências ,mesmo muito grandes , enfim é a vidoquinha.
Vamos,agora, falar dos anões , que podendo não ser filhos de Deus , são pelo menos filhos da nossa imaginação.
Eram sete , não seis nem oito , mas sete , que sete é número mágico não
sejam todos os números mágicos assim haja vontade.
Chamavam-se; o Dunga ,o Resmunga ,o Double-Penetration ,o Balbinas , o
Miminhos , o Perínio e por último Thor o Anal . Este , por último porque se salientava dos demais, pois era evidente que se tratava de um trágico erro da mãe natureza.
Eram anões, mas dos altos e o que lhes minguava em estatura, sobrava-lhes em hortaliça. Eram uns anões parrudos e como se dizia em Itália no tempo do Duce, seu contemporâneo, ”essono nani pero com un pairo di colhoni cosi grandi” ,excepto um o Thor é evidente, e abriam os braços para delimitar.
Tinham as suas manias , porém qual de nós pode atirar o primeiro calhau?
Ponhamos fim às apresentações, que tudo tem um fim até mesmo o Universo e passemos ao discurso directo, que sempre fica melhor nestas diletâncias.
-Estes passeios na floresta, fazem melhor que o tintol! dizia o Dunga com o nariz muito vermelho e arrotando estentóriamente. Dois passos atrás resmungava o Balbinas -Este marmelo em cada merdice que diz acaba sempre por falar no carrascão!e gritou: - Cala-te aí oh bebedolas ,vai lá passear a halitose para outro lado!!
Mais recuado seguia o grosso do pelotão D.P à cabeça e fechava com o Thorzinho e o Resmunga perdido de riso e à galhofa com o parceiro que lhe mostrava a rectaguarda:-Eh! Eh! Eh! Bichoninha linda qualquer dia ficas grávida, se continuas assim a rebolar-te e com a mãozinha a dar a dar! E olhava concupiscente para a bundaça fremente:- Olha que eu não uso camisinha!
E lá seguiam contentes em filinha, que ninguém sabe porque é que os anões andam sempre em filinha , e depois não querem que a malta fale. Estacaram de súbito ao ver uma linda casinha na orla da floresta.
-Ena ,dizia o Dunga ,mas que lindas maisons! Se calhar é um bairro da Caixa!
Vociferava o Balbinas : -Arranjaste uma cardina , que estás aqui estás a ver ver o centro comercial das Amoreiras.
Dizia o Perínio com ar sonhador: -Podíamos espreitar!Respondia o Miminhos:
-Espreitar e não entrar é pecado oh rapaziada! Bora ir !!
Perínio é talvez o mais desconhecido dos anões. Num mundo que escalpeliza o menor dos vícios e escapadelas , este anãozinho passou incólume como se fosse um exemplo da Virtude.
O que ele faz só a Deus interessa e é para o julgamento final, mas até lá levantemos o véu sobre as suas actividades :
..Passeando paulatinammente pelo parque pacientemente procurava Perínio protuberância ou profundeza para proporcionar prazer..e assim passava os dias.Abençoado.
Entraram na casinha e depararam com uma salinha muito composta mobilada com afinco , mau gosto e mobília estilo Quinéne. Uns passos à frente um quartinho estilo camarata com sete caminhas e uma camona.
-Deve ser uma casa de ursinhos!!Vejam as caminhas para os filhos e a grande para o papá e a mamã.A mesinha da sala com 8 pratinhos blá blá blá!!Contava o Miminhos , muito dado a coisas que metessem ursinhos , mas com contornos escuros, vá-se lá saber.
Turculento de seu hábito , regougava o D.P.:- Vou mas é estivar-me no piano e quero que vocês se vão lixar!
Bora!Bora! dizia a turbamulta de baixa estatura.
Passados dez minutos todos roncavam.
Entretanto a nossa heroína , apeando-se dum táxi , chegou à casinha que tanto trabalho lhe dera a arrendar. –Trinta e cinco Euros por dez minutos de corrida??Ai filho andas com a bandeirada muito arrebitada!!
Deparou com a casa e gostou do que viu. Entrou e considerou tudo muito acatitadinho.
Cansada pelas emoções do dia resolveu deitar-se de imediato , sem sequer olhar em roda nem ouvir a roncadeira que atroava o quarto. Estas faltas de atenção normalmente pagam-se e caro e não tardaram dez minutos que o roncar não parasse e não se começassem a ouvir comentários foleiros :
-Eh rapaziada a cama grande tem gente!!Se calhar é o urso!! É mas é a porca da tua avó oh gebo!!Oh rapaziada a avó do resmunda é preta!
Porra , é preta e boa como o caraças!!E pode? E pode? Aflautava o Thor.
Com o cagarim envolvente a pricesinha acordou e de imediato se viu rodeada de galfarros, apalpões, beliscões , afagamentos de seio e bunda e outras sevícias não cartografadas.
-Oh canalha miúda!Mas que gaita de rebaldaria vocês pensam que isto é?
-Que é o da Joana , se calhar?E num tom mais grosso e de comando:
-Vamos lá a abrir alas para deixar passar a Princesa , que vai ao psícologo!E mãos ao ar ,que tenho as nalgas cheias de nódoas brancas! Gritou já com inflexões de John Waine.
E zarpou cheia de fúria castelhana e de télélé na patorra.Chegada ao centro bolinou em direcção à boutique de milagres e adivinhações de madame Zoraida , cigana de muito salero e experiência.
Posta ao corrente da situação falou esta, muito ex-catedra muito professor Marcelo:
-Olha filha o que tu tens é frieiras na vagilda!
-Frieiras?diz a princesa.
-Frigidez ,gaita que aqui a doutora não pode ter um lapso da língua!
E continua: -Precisas de uma dose de LSD e psilocibos! Toma lá que são duzentos ducados e vão dentro da maçãzinha que é prós chuis não desconfiarem!
Encantada com a resolução do problema que a afligia lá foi a Bábá a roer a fruta e fazer disparates como é apanágio das princesas.
E quando chegou à casinha já o problema tinha contornos bem mais suaves , quiçá apetecíveis.
Atenção ó cambada, se querem farra vamos a isso que estou no “good mood”, mas com ordem e sem desvaríos, senão mando chamar o das corvetas !!!
Mais valia que não tivesse dito nada, porque aquela maltosa quando a ouviu avançou como um comboio.
A partir daí a cena ganhou contornos indistintos , até porque algum dos mais envergonhados fechou a luz a correu as cortinas.
Ouviam-se urros , estretores ,gemidos de vária índole, rasgar de roupas sopradelas em camisinhas e em contralto os ais uis, os com força agora, os mete tudo cabrão e outros incitamentos de fino recorte literário da Clara Albina Branca das Neves princesa e “tigresse”.
Já altas horas da manhã escutavam-se apenas o resfolegar ansioso de quem gozava e os gritos aflautados de Thor o Anal:
-Organizem-se! Ai!Ai! Credo, organizem-se!!
Desta narrativa se pode concluir que não há espelho , não há príncipe, não há bruxa. O que na verdade aconteceu foi muito mais prosaico e se não acabou bem também não acabou mal, a Babá que o diga, pois ficou com amigos para o resto da vida.
THE END