.

Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho (Recife, 19 de abril de 1886 — Rio de Janeiro, 13 de outubro de 1968) foi um poeta, escritor, crítico literário e de arte, professor de literatura e tradutor brasileiro.
Poema de MANUEL BANDEIRA
Profundamente
Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Estrondos de bombas luzes de Bengala
Vozes, cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.
No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam, errantes
Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?
— Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente.
*
Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci
Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?
— Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.
Texto extraído do livro "Antologia Poética - Manuel Bandeira", Editora Nova Fronteira – Rio de Janeiro, 2001, pág. 81.
Considera-se que Bandeira faça parte da geração de 22 da literatura moderna brasileira, sendo seu poema Os Sapos o abre-alas da Semana de Arte Moderna de 1922. Juntamente com escritores como João Cabral de Melo Neto, Paulo Freire, Gilberto Freyre e José Condé, representa o que há de melhor na produção literária do Estado de Pernambuco.
Biografia
Filho do engenheiro Manuel Carneiro de Sousa Bandeira e de sua esposa Francelina Ribeiro, era neto paterno de Antônio Herculano de Sousa Bandeira, advogado, professor da Faculdade de Direito do Recife e deputado geral na 12ª legislatura e seu tio João Carneiro de Sousa Bandeira foi advogado, professor de Direito e membro da Academia Brasileira de Letras e Antonio Herculano de Souza Bandeira Filho,irmão mais velho do Engenheiro Souza Bandeira foi advogado, procurador da coroa, autor de expressiva obra jurídica e foi também Presidente da Províncias da Paraíba e de Mato Grosso.
Seu avô materno era Antônio José da Costa Ribeiro, advogado e político, deputado geral na 12ª legislatura. Costa Ribeiro era o avô citado em Evocação do Recife. Sua casa na rua da União é referida no poema como "a casa de meu avô". No Rio de Janeiro, para onde viajou com a família, em função da profissão do pai, engenheiro civil do Ministério da Viação, estudou no Colégio Pedro II (Ginásio Nacional, como o chamaram os primeiros republicanos) foi aluno de Silva Ramos, de José Veríssimo e de João Ribeiro, e teve como condiscípulos Álvaro Ferdinando Sousa da Silveira, Antenor Nascentes, Castro Menezes, Lopes da Costa, Artur Moses.
Em 1902 terminou o Curso de Humanidades e foi para São Paulo,onde iniciou o curso de arquitetura , que interrompeu por causa da tuberculose. Para se tratar buscou Campos de Jordão, Campanha e outras localidades de clima seco. Com a ajuda do pai que reuniu todas as economias da família foi para Suíça, onde esteve no Sanatório de Clavadel. Manuel Bandeira faleceu no Rio de Janeiro e foi sepultado no mausoléu da Academia Brasileira de Letras no Cemitério São João Batista no Rio de Janeiro.
Professor de literatura, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras onde foi o terceiro ocupante da Cadeira 24 cujo patrono é Júlio Ribeiro. Sua eleição ocorreu em 29 de agosto de 1940, sucedendo Luís Guimarães e foi recebido pelo Acadêmico Ribeiro Couto em 30 de novembro de 1940.
Faleceu aos 82 anos de idade, no dia 13 de outubro de 1968 em Botafogo no Rio de Janeiro. Foi sepultado no mausoléu da Academia Brasileira de Letras, no cemitério São João Batista.
Poesia de Bandeira
Um dos poetas nacionais mais admirados, inspirando, até hoje, desde novos escritores a compositores. Aliás, o "ritmo bandeiriano" merece estudos aprofundados de ensaistas. Por vezes inspira escritores não em razão de sua temática, mas, também devido ao estilo sóbrio de escrever.
Manuel Bandeira possui um estilo simples e direto, embora não compartilhe da dureza de poetas como João Cabral de Melo Neto, também pernambucano. Aliás, numa análise entre as obras de Bandeira e João Cabral, vê-se que este, ao contrário daquele, visa a purgar de sua obra o lirismo. Bandeira foi o mais lírico dos poetas. Aborda temáticas cotidianas e universais, às vezes com uma abordagem de "poema-piada", lidando com formas e inspiração que a tradição acadêmica considera vulgares. Mesmo assim, conhecedor da Literatura, utilizou-se, em temas cotidianos, de formas colhidas nas tradições clássicas e medievais. Em sua obra de estréia (e de curtíssima tiragem) estão composições poéticas rígidas, sonetos em rimas ricas e métrica perfeita, na mesma linha onde, em seus textos posteriores, encontramos composições como o rondó e trovas.
É comum criar poemas (como o Poética, parte de Libertinagem) que se transforma quase que em um manifesta da poesia moderna. No entanto, suas origens estão na poesia parnasiana. Foi convidado a participar da Semana de arte moderna de 1922, embora não tenha comparecido, deixando um poema seu (Os Sapos) para ser lido no evento.
Uma certa melancolia, associada a um sentimento de angústia, permeia sua obra, em que procura uma forma de sentir a alegria de viver. Doente dos pulmões, Bandeira sabia dos riscos que corria diariamente, e a perspectiva de deixar de existir a qualquer momento é uma constante na sua obra.
Obras
Poesia
A Cinza das Horas - Jornal do Comércio - Rio de Janeiro, 1917
Carnaval - Rio de janeiro,1919
O Ritmo Dissoluto - Rio de Janeiro, 1924
Poesia (A cinza das Horas, Carnaval, Ritmo Dissoluto) - Rio de Janeiro, 1924
Libertinagem - Rio de Janeiro, 1930
Estrela da Manhã - Rio de Janeiro, 1936
Poesias Escolhidas - Rio de Janeiro, 1937
Poesias Completas - Rio de Janeiro todos livros anteriores com o novo Lira dos Cinquent'anos), 1940
Poemas Traduzidos - Rio de Janeiro, 1945
Mafuá do Malungo - Rio de Janeiro, 1948
Poesias Completas (todos os trablahos anteriores incluindo o novo Belo Belo) - Rio de Janeiro, 1948
Opus 10 - Rio de Janeiro, 1952
Poesias (incluindo Opus 10) - Rio de Janeiro, 1954
50 Poemas Escolhidos pelo Autor - Rio de Janeiro, 1955,
Obras Poéticas - Rio de Janeiro, 1956
Alumbramento - Rio de Janeiro, 1960
Estrela da Tarde - Rio de Janeiro, 1960
Prosa
Crônicas da Província do Brasil - Rio de Janeiro, 1936
Guia de Ouro Preto, Rio de Janeiro, 1938
Noções de História das Literaturas - Rio de Janeiro, 1940
Autoria das Cartas Chilenas - Rio de Janeiro, 1940
Apresentação da Poesia Brasileira - Rio de Janeiro, 1946
Literatura Hispano-Americana - Rio de Janeiro, 1949
Gonçalves Dias, Biografia - Rio de Janeiro, 1952
Itinerário de Pasárgada - Jornal de Letras, Rio de Janeiro, 1954
De Poetas e de Poesia - Rio de Janeiro, 1954
A Flauta de Papel - Rio de Janeiro, 1957
Itinerário de Pasárgada - Livraria São José - Rio de Janeiro, 1957
Andorinha, Andorinha - José Olympio - Rio de Janeiro, 1966
Itinerário de Pasárgada - Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1966
Colóquio Unilateralmente Sentimental - Editora Record - RJ, 1968
Seleta de Prosa - Nova Fronteira - RJ
Berimbau e Outros Poemas - Nova Fronteira - RJ