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O FILME DESTA NOITE DA FESTA DO
CINEMA ITALIANO FALA DA ORGANI-
ZAÇÃO DE EXTREMA ESQUERDA ITA-
LIANA "PRIMA LINEA" CONTEMPO-
RÂNIA DAS "BRIGATE ROSSE" .
Foi uma época ainda muito perto de nós, e que me tocou bastante.

O tema foi concebido em cima de acontecimetos verdadeiros, da época da luta política numa época em que se iniciaram os assassinatos politicos de figuras da alta finança e do Poder político .
La Prima Linea segue a boa linhagem de um cinema italiano atento à sua história e ao seu desejo de um retrato honesto de alguns dos protagonistas com maior intervenção na história política recente do país. O filme parte de uma adaptação da autobiografia de Sergio Segio, uma das principais figuras do movimento armado Prima Linea, grupo terrorista de inspiração política marxista-leninista que foi responsável por cerca de duas dezenas de assassinatos políticos em Itália durante as décadas de setenta e oitenta. O relato da sua narrativa, encadeado pela figura do próprio, é pontuado por momentos centrais da sua acção terrorista - assassinatos que deixaram marcas no país e que moveram adversários e antigos aliados contra a acção do grupo, cercando os seus intervenientes e as suas justificações para o uso da violência contra inocentes. A força da convicção das suas acções passa rapidamente, contudo, para o questionamento desses mesmos actos pela voz do protagonista, um líder crescentemente rendido ao absurdo das suas decisões e do seu contexto de vida, cujo tacto humano se vê reduzido a encontros esporádicos e fugitivos com os seus familiares, e a um amor que vive do contacto dentro da acção política e de refúgios em sítios sem nome e sem morada.
Renato De Maria, realizador de La Prima Linea, gere os momentos da luta armada e das vidas pessoais escondidas dos seus protagonistas por uma filmagem directa e concentrada em actos crus e reais, sem necessidades de artifício que se sobreponham aos momentos marcantes de pessoas que entregam as suas vidas a uma luta e de vítimas que vêem a sua vida ultrapassada pela luta de ideias revolucionários que são estranhos a sentimentos. La Prima Linea é, deste modo, um retrato essencial de um dos momentos mais agitados da vida política italiana do passado recente, lançando um olhar honesto e profundo sobre os seus protagonistas, os seus sacrifícios, os seus massacres e as suas dúvidas, sem prejuízo para uma sensibilidade que eleva o filme a um nível tocante e sincero das lutas de uma sociedade, assim como das lutas pessoais e internas de seres para quem a sua identidade se torna em mero veículo de um ideal impossível.
Na vida real

OS VERDADEIROS SERGIO SEGIO E SUZANA RONCONI, DURANTE O JULGAMENTO FINAL
Sergio Segio nasceu em novembro de 1955. Ele fundou e liderou a organização terrorista Prima Linea, de extrema-esquerda, que matou mais do que as Brigadas Vermelhas. A organização Prima Linea fuzilou e matou o metalúrgico e líder sindical Guido Rossa, nascido em 1934. Segio era filiado ao Partido Comunista Italiano (PCI) e ocupava o posto de delegado sindical na centenária fábrica Italsider, de Gênova.
Pela primeira vez, o terrorismo radical de esquerda abatia um sindicalista comunista. No dia 24 de janeiro de 1979, por volta das 6h30, Guido Rossa, na direção da seu Fiat 850, rumava à fábrica, quando foi interceptado por um comando da Prima Linea. No volante, recebeu o impacto de seis projéteis e faleceu.
O presidente da República italiana, o socialista Sandro Pertini, compareceu aos funerais, que seguiu acompanhado por uma multidão de trabalhadores. A morte do metalúrgico deveu-se ao fato de ele impedir, na qualidade de delegado sindical, a distribuição de folhetos da Prima Linea aos trabalhadores da Italsider. Mais ainda, ele denunciara publicamente o operário Francesco Berardi como o responsável pela tentativa de distribuição dos volantes, sem a sua autorização. A propósito, Cesare Battisti entendeu que a sua organização, a Proletários Armados para o Comunismo, deveria matar o seu carcereiro, fato que se consumou.
Naquele mesmo janeiro de 1979, a Prima Linea, com Sergio Segio a disparar, matou o o honesto juiz Emilio Alessandrini, que pouco tempo antes tinha ilibado a Prima Linea pela explosão terrorista da Piazza Fontana de Milan,concuindo que tinha sido obra do grupo terrorista fascista Gladioi. . Isto logo depois de ele ter deixado o seu pequeno filho de 5 anos no colégio. Alessandrini era juiz de instrução nos casos de terrorismo e não tinha escolta à sua disposição.
Alessandrini recebeu a sentença de morte da Prima Linea por representar uma ameaça consistente na iniciativa de reunir-se com os dois juízes de instrução de Turim para troca de informações e experiências contra o terrorismo.
No dia 19 de março de 1980, com Sergio Segio à frente, a eversiva Prima Linea matou, na Universidade de Milão, o magistrado instrutor e professor Guido Galli.
Segio foi preso na Itália. Nunca se queixou de maus-tratos ou de violação ao princípio da ampla defesa. Recebeu a nominal pena de ergástulo (prisão perpétua), comutada para 22 anos, uma vez que não mais existe pena perpétua na Itália. Em regime fechado, cumpriu dez anos. O restante descontou entre trabalho externo e liberdade condicional.
Segio, dado como assassino em face de crimes comuns e não políticos, teve a pena declarada extinta pelo seu cumprimento. Está reintegrado à sociedade. É escritor famoso e do seu livro best seller Miccia Corta. Una Storia di Prima Linea (2005) elaborou-se o filme La Prima Linea, um sucesso de bilheteira.
O escritor Segio trabalha como voluntário para o Grupo Abelle, que difunde pela Itália a cultura da “legalidade democrática”. No momento, envolve-se em projeto de recuperação de dependentes de drogas ilícitas.
Numa análise reflexiva, mostrada no filme, Segio convenceu-se do grande erro cometido pelos grupos terroristas de esquerda: num Estado de Direito, mataram sem qualquer motivo pessoas inocentes para difundir o medo; aleijaram aleatoriamente políticos, jornalistas, professores, profissionais liberais e operários por meio da chamada gambizzazione (tiro nas pernas para lesionar e fazer a propaganda da causa); e deixaram de contar com o apoio da massa operária, que se mantinha à esquerda dentro do Estado de Direito.
"Lutamos por alguém que não aceita que lutemos assim"